sábado, 22 de março de 2014

Linguagem, Língua, Fala





O TUDO-COMUNICAR
Em geral, o que se entende por “comunicar"?
Recebo uma comunicação telefônica. Passo ou recebo uma comunicação. Estabeleço, corto ou perturbo comunicações. Fui bem-sucedido ou não em comunicar minhas impressões, ideias ou sentimentos aos meus pais, ao meu parceiro, ao meu vizinho, ao público.
Comunico-me também com o universo físico através dos meus sentidos. Assim, vejo e escuto, aprendo a arte contemporânea, que me comunica arrepios de adesão ou desgosto, aprecio a natureza, esse mar que vejo azul, esse lago tranqüilo.
Posso ainda, em alguns casos, comunicar-me com Deus ou com algum princípio eterno supra terrestre e chegar ao êxtase, em comunicação com o absoluto. Pelo menos penso que isso possa ocorrer...
O amor promete comunicações de fusão, assim como as fortes pulsões de ambição ou de poder. Uma manifestação pública pode pôr-me em estado de comunicação emotiva: um encontro, o discurso de um líder; vibro juntamente com milhares de outros indivíduos.
Em resumo, vivo em meio a comunicações múltiplas, que distingo umas das outras de maneira implícita. Com efeito, sei bem, sem que seja preciso explicar-me a cada vez, que a comunicação científica de um de meus colegas a um colóquio recente é de tipo diverso da que recebo ou me é transmitida em minha secretária eletrônica, não possuindo tampouco a mesma intensidade da que penso ter com um amigo. Um mundo as separa; e, contudo, eu as reúno todas sob o termo genérico de “comunicação".
Lucien Sfez. Crítica da Comunicação, Loyola.

LINGUAGEM
Linguagem é qualquer sistema de sinais, símbolos e recursos que o ser humano utiliza para se comunicar, isto é, para transmitir suas ideias e seus sentimentos. De um modo geral, a linguagem verbal é a mais usada. Ela se serve de palavras faladas ou escritas para realizar a comunicação. A linguagem verbal não é a mesma para todos os seres humanos. Cada povo tem seu próprio sistema vocabular e gramatical. Assim, a mesma comunicação, "Eu te amo", é expressa de maneira diferente por vários grupos.
Inglês: I love you.
Francês: Je t'aime.
Alemão: Ich liebe dich.
ItaIiano: lo ti amo.
Espanhol: Yo te amo.
No entanto, temos também a linguagem não-verbal, que emprega outros sinais (não a palavra) para que aconteça a comunicação. São os sinais de trânsito, a linguagem gestual (gestos e expressões faciais), a linguagem dos surdos-mudos, a pintura, a música, os ícones dos computadores, etc.
Na comunicação, podemos combinar alguns tipos de linguagem, como no caso do teatro (palavras, gestos, cenários, trajes, luzes e máscaras) e do Cinema (fotogramas, palavras, música, cenários, movimento).

LÍNGUA E FALA
Língua é o código verbal pertencente a determinado grupo de indivíduos, como franceses, japoneses, uma tribo, um grupo de jovens, etc. A língua é uma instituição social, produzida pela coletividade e para a coletividade.
Fala é a utilização individual e concreta que cada indivíduo faz da língua. Cada pessoa que fala ou escreve tem seu jeito próprio, particular, característico de utilizar as palavras, as expressões e a gramática para poder comunicar suas ideias, sentimentos e experiências. Essa maneira própria de cada um falar ou escrever constitui, também, o que chamamos de estilo.

1- O autor de "O Tudo Comunicar" se refere a várias formas de comunicação. Cite quais são elas e mencione algumas que você conhece.
2- Você percebeu, que a linguagem é um sistema organizado (racional) de sinais, de símbolos, para transmitir alguma ideia. Vemos abaixo duas manchetes de jornais, porém com as palavras em desordem. Reorganize as palavras e reconstitua as manchetes originais:
rodovia sem-terra em São Paulo Os bloqueiam I
empresarial conquista Mulher espaço no setor
3- Além da linguagem verbal, que outros meios o ser humano pode utilizar para comunicar suas ideias e sentimentos?
4- Qual a diferença entre língua e fala?

Leia os textos à seguir, depois, responda às questões.

Texto 1
 TRISTE PARTIDA

Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
................................
Sem chuva na terra descamba janero,
Depois, feverero,
E o mermo verão.
Entonce o rocero, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!

Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! tá tudo sem jeito,

Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando segui otra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
................................
Nós vamo a São Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamos vagá.
Se o nosso destino não fô tão mesquinho,
Pro mermo cantinho
Nós torna a vortá.
................................
Patativa do Assaré.
Cante lá que eu canto cá, Vozes.

Texto 2
O MUNDO DOS SINAIS

Sob o sol de fogo, os mandacarus se erguem, cheios de espinhos. Mulungus e Iaroeiras expõem seus galhos queimados e retorcidos, sem folhas, sem flores, sem frutos.
Sinais de seca brava, terrível!
Clareia o dia. O boiadeiro toca o berrante, chamando os companheiros e o gado.
Toque de saída. Toque de estrada. Lá vão eles, deixando no estradão as marcas de sua passagem.
TV Cultura, jornal do Telecurso.

Texto 3
FUGA

A vida na fazenda se tornara difícil.
No céu azul, as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco, os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.
Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo.
Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. Com a fresca da madrugada, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixos miúdos, (...) Caminharam bem três léguas antes que a barra do nascente aparecesse.
Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. (...) Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se.
Graciliano Ramos. Vidas Secas, Martins.

Arribação: ave parecida com o pombo, que migra em bandos de uma região para outra.
Finavam: acabavam, morriam.
Morrinhento: enfraquecido.
Amo: senhor, patrão.
Barra do nascente: clarão do nascer do sol.
Depôs: colocou.
Em pala: em aba.

5- Qual é o tema principal dos três textos?
6- Na sua opinião, que texto apresenta uma linguagem mais simples?
7- Qual dos textos lhe deixou maior impressão sobre a seca? Explique.

Exercícios sobre Figuras de Linguagem

Exercícios sobre Figuras de Linguagem

1. Informe se nas frases abaixo as palavras destacadas estão empregadas em sentido denotativo ou conotativo:
a) Nas ruas, as pessoas andavam apressadas.
b) As ruas eram cheias de pernas apressadas.
c) Temos amargas lembranças daquele período de autoritarismo polí­tico.
d) Era uma pessoa de expressão dura e coração mole.
e) Os galhos da imensa árvore sustentavam os frutos maduros.
f) Os galhos namoravam os frutos maduros que sustentavam.

2. Identifique comparação e metáfora:
a) "Hoje é sábado, amanhã é domingo /A vida vem em ondas, como O mar." (Vinícius de Moraes)
b) A vida são ondas, vem e vai.
c) A mocidade é como uma flor que desabrocha numa manhã de primavera.

3. Identifique metáfora, prosopopeia, sinestesia e catacrese:
a) As pessoas aqueciam-se ao pé das grandes fogueiras.
b) "A vida é um incêndio." (Mário Quintana)
c) "Palmeiras se abraçam fortemente
Suspiram dão gemidos soltam ais." (Duardo Dusek/Luís Carlos Goes)
d) "Em torno o entusiasmo tocava ao delírio; um grito de aplauso ex­plodia de vez em quando rubro e quente como deve ser um grito saído do sangue." (Aluísio Azevedo)
e) "Pois vejo a minha vida anoitecer." (Gregório de Matos)

4. Explique as metonímias das frases abaixo:
a) "A mão que toca o violão se for preciso vai à guerra." (Marcos e Paulo Sérgio Valle)
b) Apaixonado pela Música Popular Brasileira, conhecia Chico Buarque de Holanda a fundo.
c) Durante o jantar, bebeu apenas uma taça de vinho.
d) As câmeras procuravam todos os ângulos do trágico acidente.
e) Ainda hoje, em muitos setores, a mulher é discriminada.
f) A criminalidade deve ser combatida.

5. Explique as antonomásias e perífrases:
a) O Rei do Futebol esteve presente na disputa final do Campeonato Brasileiro.
b) O Rei do Cangaço atemorizou muita gente."
c) A Cidade Eterna recebe muitos turistas.
d) A Cidade Maravilhosa é famosa pelos seus carnavais.

6. Identifique antítese, paradoxo, eufemismo e hipérbole.
a) Era uma pessoa que não raramente faltava com a verdade.
b) "Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo ga­las, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando, os escra­vos perecendo à fome." (Pe. Antônio Vieira)
c) Repeti-lhe milhões de vezes as mesmas coisas.
d) Pra se viver, há de se sentir a morte.

7. Classifique as figuras semânticas:
a) "A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor." (Vinícius de Moraes)
b) "... eu me lembrava
Sempre da corça arisca dos silvados
Quando via-lhe os olhos negros, negros
Como as plumas noturnas de graúna!" (Castro Alves)
c) "A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro." (Gregório de Matos)
d) "Que noite fria! Na deserta rua
Tremem de medo os lampiões sombrios." (Castro Alves)
e) Meus olhos desmaiaram de emoção quando ouvi sua voz.
f) Ele devolveu o excesso de comida que engoliu sem mastigar.
g) Entra pela janela a preguiçosa brisa.
h) Não fiquei preocupada porque quando o pé-de-vento chegou as crianças já estavam na escola.
i) Ninguém podia negar que as mãos do trombadinha eram ágeis.
j) O olhar duro e doce da mamãe interrompeu a discussão, com energia e carinho.
k) O Papa da Justiça Social ajudou a criar uma nova mentalidade dentro da Igreja.
l) A madeira verde e doce contagiou a sala com seu perfume.
m) O Rei do Baião é famoso internacionalmente.
n) No velório, as palavras davam a dimensão do sofrimento.
o) O sorriso navega no pranto estrelado dos seus olhos, enquanto lágrimas escorrem do canto da boca.
p) A deusa da beleza, uma criação dos gregos, representa a perfeição.

8. Identifique onomatopéia e aliteração:
a) "Conheciam-no pelo toque-toque da perna de pau." (Coelho Neto)
b) "Esterando patada pregada na pedra do porto." (Chico Buarque de Holanda)
c) "Vozes, veladas, veludosas, vozes." (Cruz e Sousa)
d) O plim-plim da televisão interrompeu o programa, meus pensamentos e o sono da criança.

9. Identifique elipse, zeugma, hipérbato e pleonasmo:
a) "E diz agora um boato
Que só no século vinte
Chamada a postos
A Constituinte
Será..." (Artur Azevedo)
b) Na ausência, saudade; na presença, tormento. Como explicar?
c) "Meus pobres sonhos que sonhei, já tão sonhados." (Alphonsus de Guimaraens)
d) Há cinco minutos ela queria a bicicleta, depois a bola, o livro para recortar, o caderno para escrever, a televisão para ligar, a rede, e eu corria de lá para cá para atender à criança.

10. Identifique assíndeto, polissíndeto, anacoluto e repetição:
a) Umas gaivotas bicando peixes em pleno mar, caminhávamos pen­sando em como ocorre a luta pela sobrevivência.
b) E sem explicações ela chorava, e ria, e cantava, e corria de um lado para outro como em busca de si mesma.
c) "Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor." (Manuel Bandeira)
d) Respiramos fundo, demo-nos as mãos, subimos no barco, enfrenta­mos o rio, a correnteza, o medo.

11.Classifique as silepses presentes nas frases abaixo:
a) O bando de pardais invadiram a plantação e pouco sobrou.
b) As mulheres decidimos não comprar carne enquanto não rebaixa­rem os preços.
c) Conhecida nacionalmente, Ribeirão Preto pode ser chamada a capi­tal do chope.
d) Vossa Excelência não fique desanimado, fale mais alto e a galeria o escutará.  

12. Classifique as figuras de linguagem destacadas:
a) "Nesse lábio mordente e convulsivo,
ri, ri risadas de expressão violenta." (Cruz e Sousa)
b) "Sino de Belém, que graça ele tem!
Sino de Belém bate bem-bem-bem" (Manuel Bandeira)
c) "E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E O coração está seco." (Carlos Drummond de Andrade)
d) Pedro pedreiro, penseiro
Esperando o trem." (Chico Buarque de Holanda)
e) Os teus olhos são negros e macios." (Fernando Pessoa)
f) "Eu estava agora tão maior que não me via mais. Tão grande como uma paisagem ao longe." (Clarice Lispector)
g) "Na imensa descida,
A catarata
Se suicida." (Millôr Fernandes)
h) "As velas do Mucuripe vão sair para pescar." (Fagner e Belchior)
i) "No fim do túnel, o princípio do túnel.
Na subida da pedra, a descida da pedra." (Mário Faustino)
j) "Que a saudade dói latejada E assim como uma fisgada
No membro que já perdi'.' (Chico Buarque de Holanda)
k) "Nasce o sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura." (Gregório de Matos)
l) "Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas." (Cecília Meireles)
m) A Cidade Maravilhosa ostenta beleza e muita miséria.
n) "O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.” (Carlos Drummond de Andrade)

13. Identifique e classifique os vícios de linguagem:
a) Espero que você seje feliz.
b) Ao toque da campainha, desceu para a sala de baixo.
c) Os sindicalistas obedeceram a decisão do juiz.
d) Eu nunca ganho nada em sorteios.
e) Meu patrão tinha convulsão quando se falava em inflação.
f) Afine o ouvido ao ouvir Milton Nascimento.
g) O Papa pediu passagem para a Polônia.
h) Fernando visitou sua irmã e depois saiu com seu carro.

Os Lusíadas

Autor: Luiz Vaz de Camões

O maior dos poetas portugueses, nasceu em Coimbra por volta de 1524. Em sua vida, sucederam-se aventuras e adversidades. Estudou em Coimbra, freqüentou a corte de d. João III, em 1547, partiu para Ceuta, e numa disputa com os mouros perdeu o olho direito. De volta a Portugal, envolveu-se em duelos e outras rixas, o que lhe custou um ano de prisão. Em 1553, participou de expedições militares na Índia, depois em Macau e quando se dirigia a Goa, naufragou nas costas do Camboja. Conta-se que se salvou, nadando apenas com um braço e erguendo o outro acima das ondas para salvar o manuscrito de Os lusíadas, publicado em 1572. O poema épico tem como tema central o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. São ao todo dez cantos, em 1102 estrofes de oito versos, de esquema rimático ABABABCC. Sua estrutura subdivide-se em proposição, invocação, dedicatória e narração, segundo as normas do Classicismo imperante.
 
1. Estrutura
O poema divide-se em dez cantos. Cantos são as partes que compõem os longos poemas. São 8.816 versos, distribuídos em 1.102 estrofes com o seguinte esquema de rimas: ab ab ab cc. Camões seguiu o modelo da Eneida, do escritor Virgílio, ao estruturar sua obra, que apresenta as seguintes partes:

1ª parte: ocupa os dezenove primeiros versos do poema, compreendendo:
  • Introdução – nela Camões invoca as Tágides para ajudá-lo nessa tarefa. As Tágides seriam musas do rio Tejo.
  • Oferecimento – a obra é oferecida ao Rei D. Sebastião

2ª parte: é a narração, que ocupa a maior parte do poema – do verso 19 do canto I ao final do canto X. Compreende a viagem de Vasco da Gama às Índias. Em meio às peripécias da viagem, são relatados os episódios importantes da história de Portugal. Camões narra a viagem de ida e a de volta. A narrativa não segue a ordem cronológica, linear, pois quando se inicia o poema, os navegantes já estão no meio do oceano, em plena viagem.

3ª parte: é o epílogo, que ocupa uma pare do canto X. No epílogo, Camões refere-se à pátria que caminha rapidamente para a inevitável ruína. Predomina um tom melancólico e quase profético, pois em 1580 – oito anos após a publicação da obra – Portugal passa ao domínio dos espanhóis.
2. O maravilhoso pagão

Chama-se maravilhoso o fato de seres sobrenaturais intervirem nas ações narradas na obra. Uma das exigências da epopéia clássica era a intervenção de deuses ou outras entidades pagãs, que se colocavam contra determinadas empresas humanas ou a favor delas. No caso de Os lusíadas, Vênus é a deusa que procura proteger os portugueses, enquanto Baco é o opositor, ou seja, quem coloca obstáculos à realização daqueles feitos.
3. Assunto
O assunto – viagem de Vasco da Gama às Índias – serve como pretexto para Camões relatar a história de Portugal. Nesse ponto, a epopéia camoniana difere da clássica, pois trata de fatos verídicos.
4. O nome

Lusíadas deriva de Luso, que teria sido o primeiro português.
5. Episódios líricos
É outro fato que diferencia a epopéia camoniana da epopéia clássica.
Entremeados à história de Portugal, há episódios líricos, que segundo os estudiosos, são o que de melhor existe no longo poema. São episódios líricos famosos: o de Inês de Castro, o da Ilha dos Amores e parte do episódio do gigante Adamastor.
6. Antropocentrismo
A conquista dos mares pelos portugueses simboliza o domínio do homem sobre a natureza, característica tipicamente antropocêntrica e, portanto, renascentista.
Vejamos um breve resumo da obra:
Canto I

Contém a introdução, a invocação e o oferecimento. A narração tem início como os portugueses já no Oceano Índico, ou seja, em plena viagem. Enquanto isso, os deuses reúnem no Olimpo (concílio dos deuses) para decidir a sorte dos portugueses: permitir ou não que eles cheguem às Índias. Vênus e Marte são favoráveis ao empreendimento. Baco é contrário. Júpiter decide permitir a continuidade da viagem. Em Moçambique, os portugueses enfrentam uma cilada preparada por Baco.
Canto II

Em Moçambique, outra cilada: Baco, disfarçado de cristão, tenta convencer os portugueses a desembarcarem. Vênus e as Nereidas intervêm, impedindo que os portugueses sejam derrotados pelos mouros. A frota chega a Melinde, onde é festivamente recebida.
Nereidas: Ninfas dos mares; eram cinqüenta
Canto III

A pedido do rei de Melinde, Vasco da Gama começa a contar a história de Portugal. Nesse canto, narra-se a história de Inês de Castro, uma das mais conhecidas passagens de Os lusíadas.
Canto IV

Narram-se outros fatos importantes da história portuguesa, até chegar à época da viagem de Vasco da Gama. A narrativa retrocede para o início da viagem. Quando os portugueses vão sair do porto de Restelo, surge um velho que critica severamente as grandes navegações, acusando os portugueses de vaidade excessiva. É o episódio conhecido como "O velho do Restelo".
Canto V

A frota ainda está em Melinde. Vasco da Gama narra a viagem pela costa africana, o cruzamento do Equador e detém-se naquele que foi o mais difícil ponto da viagem: a travessia do Cabo das Tormentas, que aparece personificado na figura do gigante Adamastor.
Canto VI

A armada deixa Melinde com destino às Índias. Baco desce ao fundo do mar e pede aos deuses que liberem os ventos contra a fronteira portuguesa. Ocorre uma tempestade, abrandada com a chegada de Vênus e das Ninfas, que seduzem os ventos. Finalmente chega às Índias.
Canto VII

Narram-se o desembarque em Calicute e os primeiros contatos como os mouros. Descrevem-se as Índias.
Canto VIII

Os portugueses enfrentam novos problemas com os mouros. Alguns adivinhos dizem que os lusitanos vinham para escravizar os indianos. Baco aparece em sonho a um sacerdote muçulmano, inspirando-lhe sentimentos anticristãos. (Lembre-se de que os portugueses eram cristãos).
Canto IX

Conseguindo livrar-se das dificuldades, Vasco da Gama apressa a partida. Inicia-se a viagem de volta a Portugal. Segue-se o episódio da Ilha dos Amores; Vênus e Cupido preparam uma recepção aos portugueses para compensar-lhes os sofrimentos.
Enquanto Vasco da Gama ama a deusa Tétis, os marinheiros divertem-se com as Ninfas.
Canto X

Tétis oferece um banquete aos navegantes. Após o banquete, leva-os para o alto de um monte e descreve-lhes o mundo até então conhecido. Os navegantes partem da ilha e retornam a Lisboa.
 

sábado, 8 de março de 2014

A elegância do comportamento - Martha Medeiros


As pessoas geralmente se preocupam com a aparência física e se esmeram para mostrar certa elegância, de acordo com suas possibilidades.

Isso é natural do ser humano. Tanto que muitos buscam escolas que ensinam boas maneiras.

No entanto, existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais corriqueiras, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto: é uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.

Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das maldades ampliadas de boca em boca.

É possível detectá-la também nas pessoas que não usam um tom superior de voz. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.

É uma elegância que se pode observar em pessoas pontuais, que respeitam o tempo dos outros e seu próprio tempo.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece. É quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não.

É elegante não ficar espaçoso demais. Não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao de outro.

É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.

É elegante retribuir carinho e solidariedade.

Sobrenome, cargo e joias não substituem a elegância do gesto. Não há livro de etiqueta que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo e a viver nele sem arrogância.

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.

A pessoa de comportamento elegante fala no mesmo tom de voz com todos os indivíduos, indistintamente.

Ter comportamento elegante é ser gentil sem afetação.

É ser amigo sem conivência negativa.

Ser sincero sem agressividade.

É ser humilde sem relaxamento.

Ser cordial sem fingimento.

É ser simples com sobriedade.

É ter capacidade de perdoar sem fazer alarde.

É superar dificuldades com fé e coragem.

É saber desarmar a violência com mansuetude e alcançar a vitória sem se vangloriar.

Enfim, elegância de comportamento não é algo que se tem, é algo que se é.

Mais do que decorar regras de etiqueta e elaborar gestos ensaiados, é preciso desenvolver a verdadeira elegância de comportamento.

Importante que cada gesto seja sincero, que cada atitude tenha sobriedade. A verdadeira elegância é a do caráter, porque procede da essência do ser.

O copo de água

O COPO DE ÁGUA Um conferencista falava sobre gerenciamento da tensão. Levantou um copo com água e perguntou à platéia: - Quanto você...