Conheça
os textos dos vencedores do redAÇÃO ZH
Concurso promovido por Zero Hora e Grupo Unificado
premiou cinco estudantes com bolsa de estudos
09/08/2012
- 11h30minAtualizada
em 09/08/2012 - 11h30min
Na etapa final, 300 selecionados foram desafiados a
escrever uma dissertação sobre o papel da mulher ao longo da históriaLauro
Alves / Agencia RBS
Diana, Henrique, Juliana, Rafael e Vinícius são os
autores das cinco redações que venceram o concurso redAÇÃO ZH deste ano. Em
seus textos, eles discutiram a transformação histórica da figura feminina com
diferentes argumentos. Do papel de mãe até a possibilidade de a mulher escolher
o que quer ser, os cinco vencedores buscaram escrever uma dissertação diferente
e, ao mesmo tempo, consistente e coerente com suas ideias.
Na tarde do último sábado, dia 4, os 300
vestibulandos selecionados pelo concurso tiveram duas horas e meia para
discorrer sobre o papel da mulher na sociedade. A relação das mulheres com o
trabalho, o grau de escolaridade e a diferença salarial em comparação com os
homens foram algumas das questões destacadas na proposta de dissertação do concurso.
Na primeira etapa do redAÇÃO ZH, lançada em junho,
com um total de 3.987 inscritos, os estudantes escreveram uma dissertação sobre
a necessidade de o Brasil ter uma política de cotas raciais nas universidades.
Além de receberem uma bolsa de estudos integral no
pré-vestibular Unificado, os cinco vencedores têm seus textos publicados nas
páginas 2 e 3 do caderno Vestibular de hoje.
Conheça os textos nota 10
Diana Corti Pulga, 17 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Scalabrini, Guaporé
O sexo frágil fortalecido
Na sociedade atual, vivemos cercados pela
tecnologia que avança cada vez mais no mercado mundial. Com esse
desenvolvimento, mais profissões vêm surgindo para preencher a imensa demanda
de trabalho. Entretanto, há um detalhe na história da humanidade que permanece
quase imutável: a posição da mulher na sociedade. Houve revolução, evolução e
reivindicação; e mesmo assim há áreas em que mulheres são tratadas com
inferioridade.
Houve tempos em que a divisão entre sexos era
clara: lugar de mulher era em casa, sem exceções. Retrocedendo ainda mais na
história, sua função era unicamente a de reprodução. Mesmo do ponto de vista
religioso, a mulher é julgada inferior: seja ao cometer o pecado primordial na
Bíblia Cristã ou, em alguns momentos, em outras religiões. A sociedade moderna
pode camuflar essa diferenciação, mas isso não significa que ela não exista:
fantasiada de programas de televisão, em que mulheres são vulgarizadas;
disfarçada de patrão interesseiro, que minimiza o trabalho feminino; ou mesmo
dentro de casa, onde muitas sofrem abusos de esposos e pais. De várias maneiras
quase invisíveis, a desigualdade bate à nossa porta.
Em um recente artigo a respeito da libertação da
mulher (tendo como base o romance "Cinquenta tons de cinza"), a
revista Época discorreu sobre o comportamento da mulher moderna, colocando que
a excessiva liberdade feminina está extinguindo o romantismo do mundo atual.
Entretanto, se a mulher não tivesse conquistado sua independência, o que seria
feito dela nos dias de hoje? Se, mesmo com a "liberdade" feminina, a
igualdade não foi plenamente alcançada, como conseguiríamos chegar a ela caso
mulheres ainda fossem tratadas como "boas moças", seres submissos?
Portanto, apesar da aparente libertação da mulher
na sociedade atual, ainda há muito espaço a ser conquistado. Mesmo que na
teoria e na lei sejamos todos iguais, tendo os mesmos direitos, não é isso o
que acontece no cotidiano feminino. Devemos aprender a evoluir corretamente,
abandonando de vez os costumes do passado para que possamos, enfim, chegar à
igualdade completa. Afinal, se não nos tratarmos como iguais estaremos
regredindo à Pré-História ao invés de evoluir rumo a um futuro igualitário e
civilizado.
Henrique Santos de Souza, 17 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Sinodal, São
Leopoldo
A Amélia que ainda está por vir
A figura da mulher teve diversas formas e
significados ao longo da história. Entretanto, tanto as fortes mães alemãs da
era nazista quanto as frágeis damas da "Belle Époque" serviram para
suprir uma necessidade que não lhes pertencia. A mulher de hoje passa por um
processo de transformação de valores no qual decide o que deseja representar,
de acordo com suas próprias necessidades.
O papel feminino foi, por um longo período de
tempo, determinado pelas necessidades da sociedade em que vivia a mulher. O
regime de Hitler precisava de donas de casa capazes de manter viva a unidade da
família enquanto os maridos lutavam na guerra, assim como a sociedade francesa
precisava de mulheres que soubessem refletir em sua fragilidade e firmeza, toda
a cultura e elegância da França, desviando a atenção do governo corrupto da
época. Sempre existiram, porém, mulheres que não se submetiam a esses moldes.
Essas aumentaram em número e espalharam suas ideias de liberdade individual e
igualdade. Hoje, cada mãe e cada filha têm a oportunidade de escolher o que
quer representar e que papel quer desempenhar em seu contexto. Resta, contudo,
que não apenas haja a oportunidade de escolha, mas que se saiba que ela existe.
A Amélia que representa o estado de mudança em que
a sociedade feminina se encontra é da música "Desconstruindo Amélia",
de Pitty. Os versos "E eis que de repente ela resolve então mudar" e
"disfarça e segue em frente" mostram, respectivamente, o entendimento
repentino de sua condição seguida de revolta e a hesitação em expor totalmente
essa nova compreensão. Outras mulheres, porém, só terão essa compreensão de
Amélia se ela abandonar a hesitação e divulgar suas ideias para que o maior número
possível de pessoas também possa se transformar.
Vencido o tempo de submissão, o momento agora é de
mudança e mobilização. Para que cada representante feminina decida o que quer
representar, as convicções das mulheres que lutaram pelos seus direitos em
tempo de repressão devem ser transmitidas intensamente. Somente assim, a figura
feminina se desvinculará da imagem de Pitty ou de Mário Lago, mas se vinculará
com à de outra Amélia, personagem de uma canção que ainda será escrita.
Juliana de Oliveira Ramires, 28 anos
Ensino Médio concluído no Colégio Estadual Júlio de
Castilhos
A extinção da Amélia
Recentes pesquisas sobre o mercado de trabalho
brasileiro apontam que o sexismo tão arraigado na machista cultura brasileira
mostra-se também presente nas organizações. Apesar de mais bem qualificadas, as
mulheres ainda recebem remuneração inferior à dos homens, o que aponta para
duas questões sociais muito importantes: a reavaliação da figura feminina
contemporânea e a baixa valorização dessa mão de obra.
O papel da mulher ao longo da história foi se
modificando à medida que a sociedade flexibilizou sua estrutura e os
patriarcais provedores do lar foram cedendo espaço a mulheres aguerridas que
trabalham fora, educam filhos e administram lares. Hoje essa realidade atinge
seu ápice de desenvolvimento: o público feminino tem se qualificado cada vez
mais e agrega ao papel de filha, esposa e mãe o papel de profissional
bem-sucedida. São milhares de mulheres que assistiram a essa mudança no perfil
social da mulher brasileira e que estão à frente de grandes cargos de
organizações do país, a exemplo do governo Dilma e de seus vários ministérios
comandados por mulheres.
Há décadas as mulheres abandonaram a figura de
"Amélias" e tornaram-se personagens à frente da sociedade e das
empresas, cabendo assim tratamento igualitário ao propagado "sexo
forte". A mão de obra feminina tende a ser mais qualificada tanto pela
disciplina estimulada desde a infância quanto pela necessidade de desmistificar
o estereótipo de sexo frágil. Grande parte das empresas, apesar de admitirem a
existência de um excedente na qualificação de mulheres em relação aos homens,
ainda trazem em sua formação uma postura machista premiando com melhores
salários os homens pela firmeza, pelo bom poder de negociação, pela força,
renegando a possibilidade de essas características estarem presentes nas
mulheres, que por vezes são mais persistentes, fortes e negociadoras apenas
pela escolha de entrar no mercado de trabalho.
O Brasil é um país jovem e visivelmente feminino no
que tange à presença de mulheres em salas de aula, atuando em grandes empresas
e chefiando famílias. A valorização dessas "Amélias",
"Marias", "Joanas" ou tantas outras não dependem de
sexismos, mas sim da figura desenvolvimentista que esse novo perfil representa.
É esse diferencial que nos levará ao avanço de um país igualitário ou ao
retrocesso, porque a Amélia do memorável Mario Lago não passa de uma vaga
lembrança e, ao contrário da canção, não deixou saudades.
Vinícius de Medeiros Gehling, 17 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Contemporâneo,
Camaquã
De Amélia a Leila Diniz
O século XX foi marcado por inúmeras transformações
sociais e culturais, podendo ser chamado de século da liberdade. A luta por ser
livre desmantelou um sistema conservador, uma sociedade patriarcal e uma
juventude oprimida. Em meio ao turbilhão de conquistas, a mulher decidiu não
mais ser comandada pelo homem, conquistando não só a sua independência, como
também o seu merecido respeito. Mas tudo isso apenas foi possível a partir do
momento em que as mulheres deixaram de ouvir e os homens passaram a escutar.
Mesmo não havendo ainda total igualdade entre os
sexos aos olhos da sociedade, as mulheres conquistaram a liberdade de
igualar-se perante os homens, algo impossível até então. Uma série de fatos
levou as damas do mundo moderno a não mais temerem, e sim a serem temidas. Um
desses fatos, no Brasil, foi a crise do coronelismo a partir do Estado Novo. As
funções de coordenar a casa e procriar logo perderam peso, e o patriarcalismo
exacerbado teve sua consequente ruína. Mesmo que, atualmente, muitas mulheres
ainda sejam dependentes financeiramente dos homens, elas têm o direito de
impor-se, de ser respeitadas e ativas na sociedade. Guiam seus carros, têm suas
próprias vidas sociais independentes das amizades dos maridos bem como o
direito ao divórcio.
Além disso, as transformações do século passado
permitiram a integração do mundo por meio da globalização e o livre acesso à
mídia, a qual vincula essas conquistas. Em outras palavras, a necessidade de
tornar-se livre foi levada a quase todo mundo. As manifestações artísticas
também desempenharam papéis decisivos. Nomes como Anita Malfatti e Leila Diniz
fizeram questão de mostrar às brasileiras os seus protestos. A partir de então,
até mesmo a indústria foi forçada a se adaptar à nova mentalidade feminina. Até
a década de 1940, eram raras as motocicletas com dois lugares, pois não era bem
visto o uso de calças pelas mulheres, sem as quais era quase impossível andar
de moto. Quando os vestidos foram abandonados e o jeans, ícone na revolução
jovem, foi adotado, o banco duplo sobre duas rodas passou a ser essencial.
Afinal, os homens sempre desejaram a companhia das mulheres.
As conquistas feministas ao longo do tempo devem
ser tomadas não como grandes feitos, mas como fortes impulsos. As damas devem
continuar a sua luta, pois o devido reconhecimento ainda não foi conquistado.
Os homens devem reconhecer o que há no sexo oposto: força de mudar aquilo que
durante séculos foi uma regra. Das Amélias de Mario Lago, hão de vir muitas
Leilas. Como diria Erasmo Carlos, os homens são dependentes e carentes da força
da mulher.
Rafael Bublitz de Oliveira, 16 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Santa Teresa de
Jesus, Porto Alegre
O poder feminino
Ao longo dos séculos, o papel da mulher na
sociedade mudou, principalmente a partir da segunda metade do século vinte,
quando uma nova concepção de mulher aflorou e avançou como parte de uma
revolução cultural. No entanto, a busca extrema por tal nivelamento pode
acarretar malefícios tanto para a sociedade quanto para as próprias mulheres.
A partir da década de sessenta, o movimento
feminista na Europa atuava fortemente. O conjunto de ideias trazidas por ele
influenciou gerações na maneira de se perceber o até então chamado "sexo
frágil". As mulheres passaram a buscar primeiramente o sucesso
profissional, tendo-o como o seu grande objetivo, deixaram de lado a formação
de famílias e principalmente a geração de filhos para que o desenvolvimento da
sua carreira não fosse atrasado ou até mesmo interrompido. Isso trouxe graves
consequências (talvez irreversíveis) para a sociedade europeia em relação à
preservação de seus grupos étnicos, acarretando, inclusive, medidas de
incentivo à natalidade em diversos países.
Colocar a carreira à frente da família não é uma
atitude que exalta a mulher, já que primordialmente o papel feminino na
sociedade se define pela capacidade de ser mãe. A possível maternidade é um
princípio que não pode ser ignorado, pois permite que o sistema social
subsista, sendo nele inseridos novos indivíduos. Sendo assim, a mulher
desempenha um papel essencial, que muitas vezes é menosprezado e substituído
pela busca de se igualar ou até mesmo superar os homens em atividades
secundárias, que foram tradicionalmente definidas como masculinas (o que não
quer dizer que as sejam efetivamente). Entretanto, não se pode (nem se deve)
recriminar uma mulher porque almeja a independência, ou porque quer ganhar um
salário justo.
O grande dilema social da mulher é colocado como
uma simples escolha entre uma Amélia submissa ou outra autossuficiente,
galgando uma virilidade excessiva. A solução, no entanto, é um meio-termo: a
busca justificada pelos direitos iguais, mas sem negar o que as diferencia
positivamente dos homens, que é a capacidade extraordinária de gerar uma vida.
In: https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/vestibular/noticia/2012/08/conheca-os-textos-dos-vencedores-do-redacao-zh-3848050.html