domingo, 8 de abril de 2012

Beijos a granel - Martha Medeiros

Todo mundo sabe o que é ficar. Você vai numa festa, cruza olhares com alguém, que pode ser um colega de cursinho ou um total desconhecido, e dali a cinco minutos a dupla cai de boca um no outro: beijos, beijos, beijos. Ficaram. Isso não é novo. Vinte anos atrás, quando eu era adolescente, ficar era prática comum, só que nós chamávamos de transar, sem qualquer conotação sexual. Sexo era dormir junto. A Rê tá dormindo com o Ricardo. O Beto tá dormindo com a Carol. Nada de novo no front, a não ser o vocabulário. Ficar é legal. É uma maneira de testar a própria sexualidade e iniciar-se nos complexos mecanismos da conquista. Namorar é ainda mais legal, porque é ficar todos os dias com alguém que você não acha apenas bonitinho, mas que gosta de verdade. Acho namorar melhor que ficar, mas ambos são bons. Ficação, sim, me arrepia. Ficação é campeonato. Uma menina de 13 anos fica com o Gustavo, com o Bruno, com o Serginho e com o Zeca numa mesma noite. Meia hora pra cada um. Volta pra casa sem vestígios do batom, com a alça do sutiã arrebentado e com a sensação de que é a garota mais desejada do planeta. O Gustavo, aquele com quem ela ficou primeiro, também volta pra casa feliz da vida, porque além dela, ficou com a Lucia, de 12, com a Mariana, de 14, e com aquela ruivinha que ele nem perguntou o nome. Enfim, todo mundo se divertiu. Parece excitante? Uau, para qualquer adulto, diga-se. O próximo passo? Ficar com dois ao mesmo tempo. Muito excitante. Ficar com alguém que você não sabe o nome. Ser beijada por um estranho, e daqui a cinco minutos, por outro, e chegar em casa sem associar o beijo à pessoa. Excitante pra caramba. Excitante pra quem tem 30, 40, 50 anos, e já passou da idade de procurar príncipes e princesas encantadas. Mas com 13, a vontade de se apaixonar não será maior do que a de soltar faíscas com vários caras que na manhã seguinte nem vão lembrar que você existe? Serve para os garotos também: será bacana ver a morena que estava em seus braços enredar-se nos braços do seu primo, com a mesma languidez, já na música seguinte? Excitante, prazeroso e não tira pedaço. Só quem corre o risco de se machucar nessa brincadeira é a auto-estima. Assim como não se deve misturar bebidas, misturar pessoas também pode dar ressaca.

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