sábado, 22 de março de 2014

Linguagem, Língua, Fala





O TUDO-COMUNICAR
Em geral, o que se entende por “comunicar"?
Recebo uma comunicação telefônica. Passo ou recebo uma comunicação. Estabeleço, corto ou perturbo comunicações. Fui bem-sucedido ou não em comunicar minhas impressões, ideias ou sentimentos aos meus pais, ao meu parceiro, ao meu vizinho, ao público.
Comunico-me também com o universo físico através dos meus sentidos. Assim, vejo e escuto, aprendo a arte contemporânea, que me comunica arrepios de adesão ou desgosto, aprecio a natureza, esse mar que vejo azul, esse lago tranqüilo.
Posso ainda, em alguns casos, comunicar-me com Deus ou com algum princípio eterno supra terrestre e chegar ao êxtase, em comunicação com o absoluto. Pelo menos penso que isso possa ocorrer...
O amor promete comunicações de fusão, assim como as fortes pulsões de ambição ou de poder. Uma manifestação pública pode pôr-me em estado de comunicação emotiva: um encontro, o discurso de um líder; vibro juntamente com milhares de outros indivíduos.
Em resumo, vivo em meio a comunicações múltiplas, que distingo umas das outras de maneira implícita. Com efeito, sei bem, sem que seja preciso explicar-me a cada vez, que a comunicação científica de um de meus colegas a um colóquio recente é de tipo diverso da que recebo ou me é transmitida em minha secretária eletrônica, não possuindo tampouco a mesma intensidade da que penso ter com um amigo. Um mundo as separa; e, contudo, eu as reúno todas sob o termo genérico de “comunicação".
Lucien Sfez. Crítica da Comunicação, Loyola.

LINGUAGEM
Linguagem é qualquer sistema de sinais, símbolos e recursos que o ser humano utiliza para se comunicar, isto é, para transmitir suas ideias e seus sentimentos. De um modo geral, a linguagem verbal é a mais usada. Ela se serve de palavras faladas ou escritas para realizar a comunicação. A linguagem verbal não é a mesma para todos os seres humanos. Cada povo tem seu próprio sistema vocabular e gramatical. Assim, a mesma comunicação, "Eu te amo", é expressa de maneira diferente por vários grupos.
Inglês: I love you.
Francês: Je t'aime.
Alemão: Ich liebe dich.
ItaIiano: lo ti amo.
Espanhol: Yo te amo.
No entanto, temos também a linguagem não-verbal, que emprega outros sinais (não a palavra) para que aconteça a comunicação. São os sinais de trânsito, a linguagem gestual (gestos e expressões faciais), a linguagem dos surdos-mudos, a pintura, a música, os ícones dos computadores, etc.
Na comunicação, podemos combinar alguns tipos de linguagem, como no caso do teatro (palavras, gestos, cenários, trajes, luzes e máscaras) e do Cinema (fotogramas, palavras, música, cenários, movimento).

LÍNGUA E FALA
Língua é o código verbal pertencente a determinado grupo de indivíduos, como franceses, japoneses, uma tribo, um grupo de jovens, etc. A língua é uma instituição social, produzida pela coletividade e para a coletividade.
Fala é a utilização individual e concreta que cada indivíduo faz da língua. Cada pessoa que fala ou escreve tem seu jeito próprio, particular, característico de utilizar as palavras, as expressões e a gramática para poder comunicar suas ideias, sentimentos e experiências. Essa maneira própria de cada um falar ou escrever constitui, também, o que chamamos de estilo.

1- O autor de "O Tudo Comunicar" se refere a várias formas de comunicação. Cite quais são elas e mencione algumas que você conhece.
2- Você percebeu, que a linguagem é um sistema organizado (racional) de sinais, de símbolos, para transmitir alguma ideia. Vemos abaixo duas manchetes de jornais, porém com as palavras em desordem. Reorganize as palavras e reconstitua as manchetes originais:
rodovia sem-terra em São Paulo Os bloqueiam I
empresarial conquista Mulher espaço no setor
3- Além da linguagem verbal, que outros meios o ser humano pode utilizar para comunicar suas ideias e sentimentos?
4- Qual a diferença entre língua e fala?

Leia os textos à seguir, depois, responda às questões.

Texto 1
 TRISTE PARTIDA

Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
................................
Sem chuva na terra descamba janero,
Depois, feverero,
E o mermo verão.
Entonce o rocero, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!

Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! tá tudo sem jeito,

Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando segui otra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
................................
Nós vamo a São Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamos vagá.
Se o nosso destino não fô tão mesquinho,
Pro mermo cantinho
Nós torna a vortá.
................................
Patativa do Assaré.
Cante lá que eu canto cá, Vozes.

Texto 2
O MUNDO DOS SINAIS

Sob o sol de fogo, os mandacarus se erguem, cheios de espinhos. Mulungus e Iaroeiras expõem seus galhos queimados e retorcidos, sem folhas, sem flores, sem frutos.
Sinais de seca brava, terrível!
Clareia o dia. O boiadeiro toca o berrante, chamando os companheiros e o gado.
Toque de saída. Toque de estrada. Lá vão eles, deixando no estradão as marcas de sua passagem.
TV Cultura, jornal do Telecurso.

Texto 3
FUGA

A vida na fazenda se tornara difícil.
No céu azul, as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco, os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.
Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo.
Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. Com a fresca da madrugada, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixos miúdos, (...) Caminharam bem três léguas antes que a barra do nascente aparecesse.
Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. (...) Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se.
Graciliano Ramos. Vidas Secas, Martins.

Arribação: ave parecida com o pombo, que migra em bandos de uma região para outra.
Finavam: acabavam, morriam.
Morrinhento: enfraquecido.
Amo: senhor, patrão.
Barra do nascente: clarão do nascer do sol.
Depôs: colocou.
Em pala: em aba.

5- Qual é o tema principal dos três textos?
6- Na sua opinião, que texto apresenta uma linguagem mais simples?
7- Qual dos textos lhe deixou maior impressão sobre a seca? Explique.

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