sábado, 17 de março de 2018

O papel da mulher ao longo da história


Conheça os textos dos vencedores do redAÇÃO ZH
Concurso promovido por Zero Hora e Grupo Unificado premiou cinco estudantes com bolsa de estudos
09/08/2012 - 11h30minAtualizada em 09/08/2012 - 11h30min
Descrição: Lauro Alves / Agencia RBS
Na etapa final, 300 selecionados foram desafiados a escrever uma dissertação sobre o papel da mulher ao longo da históriaLauro Alves / Agencia RBS

Diana, Henrique, Juliana, Rafael e Vinícius são os autores das cinco redações que venceram o concurso redAÇÃO ZH deste ano. Em seus textos, eles discutiram a transformação histórica da figura feminina com diferentes argumentos. Do papel de mãe até a possibilidade de a mulher escolher o que quer ser, os cinco vencedores buscaram escrever uma dissertação diferente e, ao mesmo tempo, consistente e coerente com suas ideias.
Na tarde do último sábado, dia 4, os 300 vestibulandos selecionados pelo concurso tiveram duas horas e meia para discorrer sobre o papel da mulher na sociedade. A relação das mulheres com o trabalho, o grau de escolaridade e a diferença salarial em comparação com os homens foram algumas das questões destacadas na proposta de dissertação do concurso.


Na primeira etapa do redAÇÃO ZH, lançada em junho, com um total de 3.987 inscritos, os estudantes escreveram uma dissertação sobre a necessidade de o Brasil ter uma política de cotas raciais nas universidades.
Além de receberem uma bolsa de estudos integral no pré-vestibular Unificado, os cinco vencedores têm seus textos publicados nas páginas 2 e 3 do caderno Vestibular de hoje.

Conheça os textos nota 10
Diana Corti Pulga, 17 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Scalabrini, Guaporé
O sexo frágil fortalecido
Na sociedade atual, vivemos cercados pela tecnologia que avança cada vez mais no mercado mundial. Com esse desenvolvimento, mais profissões vêm surgindo para preencher a imensa demanda de trabalho. Entretanto, há um detalhe na história da humanidade que permanece quase imutável: a posição da mulher na sociedade. Houve revolução, evolução e reivindicação; e mesmo assim há áreas em que mulheres são tratadas com inferioridade.
Houve tempos em que a divisão entre sexos era clara: lugar de mulher era em casa, sem exceções. Retrocedendo ainda mais na história, sua função era unicamente a de reprodução. Mesmo do ponto de vista religioso, a mulher é julgada inferior: seja ao cometer o pecado primordial na Bíblia Cristã ou, em alguns momentos, em outras religiões. A sociedade moderna pode camuflar essa diferenciação, mas isso não significa que ela não exista: fantasiada de programas de televisão, em que mulheres são vulgarizadas; disfarçada de patrão interesseiro, que minimiza o trabalho feminino; ou mesmo dentro de casa, onde muitas sofrem abusos de esposos e pais. De várias maneiras quase invisíveis, a desigualdade bate à nossa porta.
Em um recente artigo a respeito da libertação da mulher (tendo como base o romance "Cinquenta tons de cinza"), a revista Época discorreu sobre o comportamento da mulher moderna, colocando que a excessiva liberdade feminina está extinguindo o romantismo do mundo atual. Entretanto, se a mulher não tivesse conquistado sua independência, o que seria feito dela nos dias de hoje? Se, mesmo com a "liberdade" feminina, a igualdade não foi plenamente alcançada, como conseguiríamos chegar a ela caso mulheres ainda fossem tratadas como "boas moças", seres submissos?
Portanto, apesar da aparente libertação da mulher na sociedade atual, ainda há muito espaço a ser conquistado. Mesmo que na teoria e na lei sejamos todos iguais, tendo os mesmos direitos, não é isso o que acontece no cotidiano feminino. Devemos aprender a evoluir corretamente, abandonando de vez os costumes do passado para que possamos, enfim, chegar à igualdade completa. Afinal, se não nos tratarmos como iguais estaremos regredindo à Pré-História ao invés de evoluir rumo a um futuro igualitário e civilizado.

Henrique Santos de Souza, 17 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Sinodal, São Leopoldo
A Amélia que ainda está por vir
A figura da mulher teve diversas formas e significados ao longo da história. Entretanto, tanto as fortes mães alemãs da era nazista quanto as frágeis damas da "Belle Époque" serviram para suprir uma necessidade que não lhes pertencia. A mulher de hoje passa por um processo de transformação de valores no qual decide o que deseja representar, de acordo com suas próprias necessidades.
O papel feminino foi, por um longo período de tempo, determinado pelas necessidades da sociedade em que vivia a mulher. O regime de Hitler precisava de donas de casa capazes de manter viva a unidade da família enquanto os maridos lutavam na guerra, assim como a sociedade francesa precisava de mulheres que soubessem refletir em sua fragilidade e firmeza, toda a cultura e elegância da França, desviando a atenção do governo corrupto da época. Sempre existiram, porém, mulheres que não se submetiam a esses moldes. Essas aumentaram em número e espalharam suas ideias de liberdade individual e igualdade. Hoje, cada mãe e cada filha têm a oportunidade de escolher o que quer representar e que papel quer desempenhar em seu contexto. Resta, contudo, que não apenas haja a oportunidade de escolha, mas que se saiba que ela existe.
A Amélia que representa o estado de mudança em que a sociedade feminina se encontra é da música "Desconstruindo Amélia", de Pitty. Os versos "E eis que de repente ela resolve então mudar" e "disfarça e segue em frente" mostram, respectivamente, o entendimento repentino de sua condição seguida de revolta e a hesitação em expor totalmente essa nova compreensão. Outras mulheres, porém, só terão essa compreensão de Amélia se ela abandonar a hesitação e divulgar suas ideias para que o maior número possível de pessoas também possa se transformar.
Vencido o tempo de submissão, o momento agora é de mudança e mobilização. Para que cada representante feminina decida o que quer representar, as convicções das mulheres que lutaram pelos seus direitos em tempo de repressão devem ser transmitidas intensamente. Somente assim, a figura feminina se desvinculará da imagem de Pitty ou de Mário Lago, mas se vinculará com à de outra Amélia, personagem de uma canção que ainda será escrita.

Juliana de Oliveira Ramires, 28 anos
Ensino Médio concluído no Colégio Estadual Júlio de Castilhos
A extinção da Amélia
Recentes pesquisas sobre o mercado de trabalho brasileiro apontam que o sexismo tão arraigado na machista cultura brasileira mostra-se também presente nas organizações. Apesar de mais bem qualificadas, as mulheres ainda recebem remuneração inferior à dos homens, o que aponta para duas questões sociais muito importantes: a reavaliação da figura feminina contemporânea e a baixa valorização dessa mão de obra.
O papel da mulher ao longo da história foi se modificando à medida que a sociedade flexibilizou sua estrutura e os patriarcais provedores do lar foram cedendo espaço a mulheres aguerridas que trabalham fora, educam filhos e administram lares. Hoje essa realidade atinge seu ápice de desenvolvimento: o público feminino tem se qualificado cada vez mais e agrega ao papel de filha, esposa e mãe o papel de profissional bem-sucedida. São milhares de mulheres que assistiram a essa mudança no perfil social da mulher brasileira e que estão à frente de grandes cargos de organizações do país, a exemplo do governo Dilma e de seus vários ministérios comandados por mulheres.
Há décadas as mulheres abandonaram a figura de "Amélias" e tornaram-se personagens à frente da sociedade e das empresas, cabendo assim tratamento igualitário ao propagado "sexo forte". A mão de obra feminina tende a ser mais qualificada tanto pela disciplina estimulada desde a infância quanto pela necessidade de desmistificar o estereótipo de sexo frágil. Grande parte das empresas, apesar de admitirem a existência de um excedente na qualificação de mulheres em relação aos homens, ainda trazem em sua formação uma postura machista premiando com melhores salários os homens pela firmeza, pelo bom poder de negociação, pela força, renegando a possibilidade de essas características estarem presentes nas mulheres, que por vezes são mais persistentes, fortes e negociadoras apenas pela escolha de entrar no mercado de trabalho.
O Brasil é um país jovem e visivelmente feminino no que tange à presença de mulheres em salas de aula, atuando em grandes empresas e chefiando famílias. A valorização dessas "Amélias", "Marias", "Joanas" ou tantas outras não dependem de sexismos, mas sim da figura desenvolvimentista que esse novo perfil representa. É esse diferencial que nos levará ao avanço de um país igualitário ou ao retrocesso, porque a Amélia do memorável Mario Lago não passa de uma vaga lembrança e, ao contrário da canção, não deixou saudades.

Vinícius de Medeiros Gehling, 17 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Contemporâneo, Camaquã
De Amélia a Leila Diniz
O século XX foi marcado por inúmeras transformações sociais e culturais, podendo ser chamado de século da liberdade. A luta por ser livre desmantelou um sistema conservador, uma sociedade patriarcal e uma juventude oprimida. Em meio ao turbilhão de conquistas, a mulher decidiu não mais ser comandada pelo homem, conquistando não só a sua independência, como também o seu merecido respeito. Mas tudo isso apenas foi possível a partir do momento em que as mulheres deixaram de ouvir e os homens passaram a escutar.
Mesmo não havendo ainda total igualdade entre os sexos aos olhos da sociedade, as mulheres conquistaram a liberdade de igualar-se perante os homens, algo impossível até então. Uma série de fatos levou as damas do mundo moderno a não mais temerem, e sim a serem temidas. Um desses fatos, no Brasil, foi a crise do coronelismo a partir do Estado Novo. As funções de coordenar a casa e procriar logo perderam peso, e o patriarcalismo exacerbado teve sua consequente ruína. Mesmo que, atualmente, muitas mulheres ainda sejam dependentes financeiramente dos homens, elas têm o direito de impor-se, de ser respeitadas e ativas na sociedade. Guiam seus carros, têm suas próprias vidas sociais independentes das amizades dos maridos bem como o direito ao divórcio.
Além disso, as transformações do século passado permitiram a integração do mundo por meio da globalização e o livre acesso à mídia, a qual vincula essas conquistas. Em outras palavras, a necessidade de tornar-se livre foi levada a quase todo mundo. As manifestações artísticas também desempenharam papéis decisivos. Nomes como Anita Malfatti e Leila Diniz fizeram questão de mostrar às brasileiras os seus protestos. A partir de então, até mesmo a indústria foi forçada a se adaptar à nova mentalidade feminina. Até a década de 1940, eram raras as motocicletas com dois lugares, pois não era bem visto o uso de calças pelas mulheres, sem as quais era quase impossível andar de moto. Quando os vestidos foram abandonados e o jeans, ícone na revolução jovem, foi adotado, o banco duplo sobre duas rodas passou a ser essencial. Afinal, os homens sempre desejaram a companhia das mulheres.
As conquistas feministas ao longo do tempo devem ser tomadas não como grandes feitos, mas como fortes impulsos. As damas devem continuar a sua luta, pois o devido reconhecimento ainda não foi conquistado. Os homens devem reconhecer o que há no sexo oposto: força de mudar aquilo que durante séculos foi uma regra. Das Amélias de Mario Lago, hão de vir muitas Leilas. Como diria Erasmo Carlos, os homens são dependentes e carentes da força da mulher.

Rafael Bublitz de Oliveira, 16 anos
3º ano do Ensino Médio, Colégio Santa Teresa de Jesus, Porto Alegre
O poder feminino
Ao longo dos séculos, o papel da mulher na sociedade mudou, principalmente a partir da segunda metade do século vinte, quando uma nova concepção de mulher aflorou e avançou como parte de uma revolução cultural. No entanto, a busca extrema por tal nivelamento pode acarretar malefícios tanto para a sociedade quanto para as próprias mulheres.
A partir da década de sessenta, o movimento feminista na Europa atuava fortemente. O conjunto de ideias trazidas por ele influenciou gerações na maneira de se perceber o até então chamado "sexo frágil". As mulheres passaram a buscar primeiramente o sucesso profissional, tendo-o como o seu grande objetivo, deixaram de lado a formação de famílias e principalmente a geração de filhos para que o desenvolvimento da sua carreira não fosse atrasado ou até mesmo interrompido. Isso trouxe graves consequências (talvez irreversíveis) para a sociedade europeia em relação à preservação de seus grupos étnicos, acarretando, inclusive, medidas de incentivo à natalidade em diversos países.
Colocar a carreira à frente da família não é uma atitude que exalta a mulher, já que primordialmente o papel feminino na sociedade se define pela capacidade de ser mãe. A possível maternidade é um princípio que não pode ser ignorado, pois permite que o sistema social subsista, sendo nele inseridos novos indivíduos. Sendo assim, a mulher desempenha um papel essencial, que muitas vezes é menosprezado e substituído pela busca de se igualar ou até mesmo superar os homens em atividades secundárias, que foram tradicionalmente definidas como masculinas (o que não quer dizer que as sejam efetivamente). Entretanto, não se pode (nem se deve) recriminar uma mulher porque almeja a independência, ou porque quer ganhar um salário justo.
O grande dilema social da mulher é colocado como uma simples escolha entre uma Amélia submissa ou outra autossuficiente, galgando uma virilidade excessiva. A solução, no entanto, é um meio-termo: a busca justificada pelos direitos iguais, mas sem negar o que as diferencia positivamente dos homens, que é a capacidade extraordinária de gerar uma vida.

In: https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/vestibular/noticia/2012/08/conheca-os-textos-dos-vencedores-do-redacao-zh-3848050.html 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O copo de água

O COPO DE ÁGUA Um conferencista falava sobre gerenciamento da tensão. Levantou um copo com água e perguntou à platéia: - Quanto você...